Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG
A irrigação da terra fértil faz a semente nela plantada desenvolver sua vitalidade, produzindo frutos. Caso contrário, a sequidão impedirá a germinação da planta. O profeta Isaías faz a comparação da chuva com a palavra de Deus. Para a pessoa humana ter condição de realização da sua vida precisa aceitar a palavra emitida pelo Criador (Cf. Isaías 55,10-11). O fechamento da pessoa para a realização do projeto de Deus seria como a terra impermeável. A água nela jorrada não tem penetração. O chão fica estéril.
Deus nos fala de diversos modos. O maior é através do Verbo, sua palavra feita um de nós, Jesus Cristo. As palavras escritas na bíblia são apenas expressões feitas do resultado da inspiração de Deus para a orientação do povo. Cristo é a expressão viva da comunicação de Deus. Aproximar-se de Jesus e deixar que ele penetre em nosso ser com sua palavra vital faz-nos modificados, a ponto de realizarmos, com grande proveito para nós e os outros, o que ele vai nos indicando. É verdadeira chuva de vida realizadora que nos invade. Tornamo-nos criaturas novas. A palavra dele é experimentada na nossa caminhada existencial. A pessoa divina de Jesus, quando é aceita em nossa vida, transforma-nos, a ponto de darmos frutos de amor, justiça, misericórdia, compromisso com a convivência solidária. Tornamo-nos testemunhas vivas e missionárias de seu amor para os outros. Modificamos o contexto familiar, profissional, eclesial e social. Esforçamo-nos, com resultado positivo, em ajudarmos o semelhante a abrir sua terra impermeável e ser dócil para aceitar a vitalidade da água ou palavra de Cristo.
O processo de aceitação do projeto de Deus nos envolve em sacrifício para sua prática. Paulo nos lembra o valor do sacrifício para sermos fiéis na missão de que somos incumbidos ao aceitarmos as coordenadas divinas: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós” (Romanos 8, 18). Mas vale a pena. Aliás, o ser humano tem desejo de infinito, de plena realização. Somente dentro das coordenadas do Criador ele consegue seu intento. É um objetivo que exige tenacidade e esforço para conquistá-lo (Cf. Romanos 8,19-23).
Não à toa Jesus nos apresenta a parábola do semeador. As sementes que caíram na parte do terreno muito pedregoso, ou cheio de mato ou de espinhos não tiveram desenvolvimento vital. As caídas no terreno bom e preparado deram muitos frutos (Cf. Mateus 13,1-23). Ele mesmo explicou a história, comparando as sementes com a palavra. Ouvir com má vontade ou fechar os olhos à realidade necessitada de nossa cooperação para ser transformada, exige aceitação da proposta de Deus. Jesus adverte os discípulos sobre tais pessoas, que não se convertem para segui-lo. Quem o aceita é feliz: sabe o valor do bem com o seguimento dos passos do Mestre. Ele veio dar vida muito mais realizadora do que a buscada pela pessoa fechada dentro de seu egoísmo, não dando de si pela causa do bem do próximo. Não vive para dar vida. Quem não der a própria para a promoção do semelhante se fecha qual terra impermeável. Quem não dá fruto de amor e justiça, conforme o exemplo e a palavra de Jesus, frustra-se por fixar-se no terreno como objetivo. Pode ter tudo mas não conquista o ideal de vida mais elevado.
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