As pessoas com deficiência ocupam, aos poucos, o seu lugar na sociedade. Mas o primeiro passo de todo esse processo, chamado inclusão, é dado dentro de casa. É junto à família que uma criança portadora de deficiência aprenderá a se aceitar como é e será incentivada a superar seus limites. "Se a família não estiver engajada, o processo de inclusão na sociedade fracassa. A família, por meio de suas atitudes e engajamento, consegue incluir o deficiente na sociedade", explica a psicóloga Iracema Maceira Pires Madaleno, supervisora de reabilitação da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). em São Paulo.
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O papel da família é muito importante, pois a aceitação dos familiares pode vir antes da aceitação do próprio paciente. Mas se a família não estiver engajada, o processo de inclusão na sociedade fracassa. A família, por meio de suas atitudes e engajamento, consegue incluir o deficiente na sociedade.
Como, em geral, agem os pais quando se vêem diante de um filho com algum tipo de deficiência, já que eles planejavam receber uma criança sem deficiência? Se sentem culpados, têm depressão, rejeitam a criança?
Todos os itens levantados são possíveis. Eles podem se sentir culpados ou mesmo depressivos, porque se sentem só no mundo, por não terem com quem compartilhar suas experiências. Olham outras crianças fazerem o que seus filhos não podem fazer. Podem rejeitar a criança, pois não foi planejada ou idealizada. Até mesmo as atitudes de superproteção podem ser uma forma de camuflar a rejeição. Esses sentimentos precisam ser trabalhados para perceberem o ser maravilhoso que têm nas mãos.
E onde essa família vai buscar apoio para esse processo de aceitação, de consciência?
O mais adequado é procurar ajuda psicológica para poder refletir e ver o que, de fato, está por trás de tudo isso e como pode se ajudar nesse processo. Outro caminho é a religião, seja ela qual for. Já outras famílias acabam recebendo apoio de parentes, vizinhos ou quem estiver mais disponível para acolhê-los.
E qual a importância dessa aceitação da família para a caminhada da criança, numa sociedade que privilegia as pessoas sem deficiência?
A importância da família é primordial. É a família que vai tirá-lo de casa para ir para escola, cinema, parque e até mesmo para uma reabilitação. Se não houver aceitação da família, não conseguimos incluí-la na sociedade e nem na própria família.
Há alguns anos, os pais não colocavam seus filhos especiais na escola, pois os achavam limitados, e assim, prejudicavam o seu desenvolvimento. Hoje, as famílias já são mais conscientes da importância dessa inclusão?
Existe essa consciência na maioria dos casos. As famílias entendem que, mesmo com limitações, os filhos conseguem se desenvolver e alcançar objetivos dentro do seu potencial. Porém, existem vários deficientes cuja deficiência não interfere na aprendizagem e poderão desenvolver o aprendizado como qualquer outra criança.
Você considera que, com as políticas públicas e a maior conscientização da sociedade em relação às pessoas com deficiência, as famílias atuam mais para que seus filhos sejam incluídos nessa sociedade? De que modo?
As famílias estão mais ativas no sentido de irem em busca dos direitos de seus filhos, reivindicando mais, indo até as delegacias de ensino para procurar as escolas mais adaptadas para a inclusão, saindo mais com as crianças para lugares públicos e exigindo lugares em ônibus, nos cinemas e participando mais de eventos públicos.
O apoio da família no processo de inclusão da criança com deficiência deve continuar também quando a pessoa se tornar adulta?
Com certeza, mas precisamos adotar as devidas proporções. Incluir é correto e acompanhar o processo de amadurecimento do deficiente também, mas superproteger e dar falsas esperanças ao deficiente não é legal e só prejudica o processo de amadurecimento emocional.
Qual a responsabilidade do poder público, principalmente nas áreas da Saúde e da Educação, para com essa criança e sua família?
A responsabilidade deve ser igual a que o Poder Público tem com as crianças ou com as famílias de não deficientes. Não podemos esquecer que tratarmos de forma diferente também é um tipo de pré-conceito e paternalismo que só prejudica a inclusão.
Você pode indicar organizações e sites que possam auxiliar a família nesse processo de conscientização?
Além da AACD, levando em conta o trabalho interdisciplinar oferecido ao paciente, podemos elencar, entre tantos outros: Lar Escola São Francisco, Hospital Albert Einstein, Hospital das Clínicas, APAE, Laramara, Derdic, Dorina Nowill, Avape e ABPC (Associação Brasileira de Paralisia Cerebral).
Fonte: Revista Família Cristã "Entrevista"
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