A vivência afetiva de Maria

A vivência afetiva de Maria é misteriosa e reservada, mas – a exemplo de João Paulo II na encíclica “Redemptoris Mater” – podemos descobrir a riqueza interior e emotiva de Nossa Senhora nas páginas do Evangelho. Basta meditar algumas das suas palavras. “Eles não têm mais vinho”. (Jo. 2,3). Ou algumas das suas atitudes, como quando teve a delicadeza de visitar Isabel e a saudou com carinhoso afeto. (Lc. 1,29).

         Mais: ao ouvirmos o cântico do “Magnificat” somos levados a penetrar na vivência afetiva da alma de Maria que, na fé, repassa os sentimentos dos Salmos e prenuncia a síntese das bem-aventuranças da pregação de Cristo. Léon Bloy, a este propósito, fala da “gloriosa montanha, tocada pelos pés da Rainha dos profetas, onde o Espírito Santo, pelos lábios d’Ela, proferiu o mais belo cântico que os homens jamais ouviram depois do Magnificat”.

         Mas a expressão mais reveladora da sensibilidade materna de Maria se percebe ao encontrar, depois de três dias, com Jesus adolescente no templo entre os doutores da Lei: “Filho, por que fizeste isto conosco? Teu pai e eu te procurávamos aflitos” (Lc. 2,49). Queixa materna, compreensível e reveladora. Ao pé da cruz, de pé, sofre, como mãe, a espada que lhe traspassa a alma, como predissera o velho Simeão.

         Confiados na ternura de Maria, no mês em que o Brasil e toda a América Latina e Caribe se inclinam para receber de suas mãos a bênção maternal, dirigimo-nos a Ela com a invocação poética de Dante: “Virgem Mãe, filha de teu Filho (...) É aquela que a humana natura nobilitaste tanto que o Criador/ não desdenhou fazer-se sua criatura (...)/ Mulher, tu és tão grande e vales tanto/ que quem quer graça e não recorre a ti/ tem o desejo de voar sem asas”. (Paraíso, canto 33).
       * Dom Benedito de Ulhôa Vieira é arcebispo emérito de Uberaba, MG,  e Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.