quinta-feira, 14 de julho de 2011

Depender ou ir à luta? .

Avaliando a história socioeconômica da Paraíba nas últimas décadas, nota-se uma ausência de planejamento de políticas conjuntas, envolvendo algumas esferas interdependentes como a política agrária, agrícola, hídrica, energética, escoamento e acessibilidade, produtos regionais e locais. A ausência, a acomodação e o descaso injustificado do Estado e de muitos gestores municipais em relação às políticas interligadas impeliram o homem e a família a desistir do sistema produtivo moderno na zona rural.
Abandonados a si mesmos, resultou o desânimo, falta de apoio e, por fim, sua exclusão. Alguns resistiram tentando permanecer num pedaço de terra tomado pela monocultura da cana. Alguns movimentos sociais resistentes ao latifúndio e a monocultura nasceram dentro de sacristias. Sinalizava-se o ideal de dar um pedaço de terra a quem tivesse vocação de trabalhar nela. Houve uma omissão por parte de muitos gestores públicos. Pouco ou nada apresentaram para a modernização dos sistemas produtivos, incentivando as cooperativas.
Recrudesceram as invasões de propriedades, sempre consideradas como latifúndios improdutivos. As invasões tornaram-se um álibi vantajoso para movimentos populares lavar a égua e encher suas burras. Lideranças locupletaram-se. Os assentamentos rurais precisavam de assistência técnica, acompanhamento de crédito financeiro e fiscalização produtiva. O objetivo era fazer a terra produzir. Deu-se a favelização rural, além de produção pífia. Verbas públicas sustentam movimentos, mas, não a produção.
Surge uma nova esperança para o homem e para a família fixarem-se no campo e torná-lo produtivo em novos arranjos, combinando agronegócio e agricultura familiar, através do Programa Empreender PB. Nesse mesmo sentido é preciso enaltecer a missão da “Emepa”, uma instituição pública estadual criada para a viabilização de soluções por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias agropecuárias.
Em função do desenvolvimento do agronegócio e da agricultura familiar, ressalta-se o trabalho desenvolvido nas áreas da fruticultura tropical, da caprinovinocultura e bovinocultura de leite, das culturas alimentares e industriais. O desenvolvimento do povo paraibano depende de fé, aprendizado de habilidades e de crédito financeiro e administrativo.
Um sério obstáculo para empreender esse caminho é a mentalidade urbana, arraigada na nossa população, nas últimas três décadas. 83% da população vivem nas cidades. Bem ou mal, são poucos os que querem voltar para a zona rural e trabalhar nas atividades produtivas do campo.
Chegou a hora de criar e incentivar a população a buscar caminhos de desenvolvimento evitando a reprodução da dependência. Para as situações de extrema miséria foi pensado o “bolsa família”, uma forma de acesso aos alimentos básicos. Porém, o “bolsa família” revela o seu caráter precário se desprovido de aprendizado para a produção. Se oferecer alívio a muitos, corre o risco de torná-los inertes. É preciso ir à luta. Sim ou não?

Dom Aldo Pagotto

Arcebispo Metropolitano da Paraíba - PB

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