quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entrevista de Padre Elias sobre a Jornada Mundial da Juventude

A equipe da PASCOM de Santo Antonio esteve reunida, nesta quarta-feira (08/02), com o pároco Pe. Elias Ramalho, para entrevista sobre o tema juventude. Foram discutidos diversos assuntos, como Jornada Mundial da Juventude, evangelização dos jovens e vocação. “O jovem não precisa ir para a escola com a bíblia debaixo do braço, nem andar promovendo novenas para mostrar que é cristão. O primeiro apelo da vocação é para o engajamento na comunidade”, afirmou Pe. Elias.

Confira abaixo o inteiro teor da entrevista:

PASCOM – A Diocese de Patos vive momentos de intensa alegria com a proximidade da chegada da Cruz Peregrina e do Ícone de Nossa Senhora a nossa cidade. Qual a importância desse evento para a Igreja particular de Patos e também para os jovens da nossa região?

Pe. Elias – Sem dúvida que o grande objetivo do evento é reunir a juventude em torno da Boa Nova da Salvação e Redenção de Cristo. É preciso reascender no coração da juventude o desejo de seguir Jesus Cristo, iluminados pelo exemplo de Maria e de tantos outras personalidades que disseram sim ao chamado “Vem, e segue-me”. O evento tem, portanto, essa finalidade – falar com os jovens sobre Jesus Cristo, a partir da sua própria realidade. Claro que, para a Igreja, a peregrinação traz também um valor especial - o aprendizado. A cada nova jornada frutifica a experiência de aprendizado entre os jovens e a Igreja. Como todos sabem, os jovens são portadores de uma linguagem criativa, cheia de novos referenciais. Um exemplo disso é a expressão “Bote-fé”. Bote-fé, acredite, creia em Cristo e também nos jovens. A Igreja entendeu a mensagem e, por isso, “bota fé” na juventude.

PASCOM – O evento abordará algum tema especial neste ano?

Pe. Elias - As temáticas mudam a cada ano, porque a intenção da Igreja é atualizar a mensagem do Evangelho. O apelo à paz, o apelo à criatividade construtiva na sociedade, o apelo ao engajamento na vida social, levando os jovens a lutar contra as estruturas de morte e transformá-las em estruturas plenas de vida, esse parece ser o grande desafio, a grande intuição do evento.

PASCOM – O Bote-fé já é um preparativo para a Jornada Mundial da Juventude, marcada para o Rio de Janeiro?

Pe. Elias - A Jornada não é só em 2013. No Rio acontecerá apenas o encerramento. Toda uma programação de evangelização com a juventude deve ser desenvolvida nas dioceses do Brasil, em vista da grande conclusão em 2013, com a vinda do Papa Bento XVI, ao Brasil. Até lá, esperamos que os jovens cristão evangelizados evangelizem mais e atraiam outros jovens para essa marcha com Cristo, em prol de uma vida mais digna, mais humana e melhor orientada para os valores da justiça e da paz.

PASCOM – A Europa enfrenta uma profunda crise na vivência da fé católica, ou, como diz o Para Bento XVI, uma “profunda crise de fé que afeta muitas pessoas”, inclusive a juventude, que, nas últimas décadas, tem “botado-fé” em outros valores, distantes daqueles anunciados como “Boa Nova”. O próprio Pontífice já anunciou que, neste ano de 2012, a Igreja celebrará o "Ano da Fé", marcando o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II. Na América Latina, a situação é idêntica à da Europa ou nossa juventude tem apresentado sinais de que a vivência da fé católica, no Continente, é ainda um aceno de esperança em um mundo marcado pelo esmorecimento da fé?

Pe. Elias – Na América Latina, como afirmou o saudoso João Paulo II, na época em que visitou o Brasil, existe um fervor cristão bem mais intenso do que no velho continente europeu. E ao dizer isso, ele reconhece indiretamente que, entre os europeus, ocorre esse esfriamento da fé. Felizmente, a Jornada da Juventude na Europa tem sido um elemento de esperança para a Igreja. Reunir mais de dois milhões de jovens, em 2011, em Madri, é uma prova de que a mensagem do Evangelho tem espaço na nossa cultura - uma cultura do consumo, do descartável, uma cultura hedonista -, desde que saibamos apresentá-la adequadamente aos jovens.

PASCOM – O crescimento da violência em nossa cidade revela a existência de uma cultura da morte, que parece atingir também a juventude. Sabe-se que a questão das drogas é um dos fatores que mais influenciam esse aumento da violência, mas não é a única. Também a desagregação dos valores familiares, a miséria e a perda de referenciais éticos têm contribuído para o agravamento desse quadro. Como a Igreja se coloca diante dessa situação?

Pe. Elias – A questão do combate à violência não diz respeito apenas à Igreja. Ela é apenas um dos atores nessa grande construção - não é a única, nem a mais importante das personagens envolvidas nesse processo. A escola, a família, o Estado, a sociedade em geral, todos eles têm um papel fundamental no resgate da dignidade dos jovens e no combate à violência. O problema é que todas as instituições estão em crise. A escola, a família, a religião enquanto instituição, também estão em crise. Vivenciamos uma mudança de época e quando isso ocorre mudam também os paradigmas. Tem-se a sensação de que tudo está perdido. Creio que o grande e absoluto valor é Jesus. Daí porque a evangelização não deve se preocupar simplesmente em atrair as pessoas para a Igreja. É preciso levá-las a uma mudança de vida, como Jesus nos propõe.

PASCOM – Tem crescido o apelo vocacional entre os jovens?

Pe. Elias – Nossa experiência pessoal aqui em Santo Antonio – através do EJC, e do próprio Shalom, que desenvolve um trabalho específico com os jovens - tem tido sinais muito positivos, com jovens não só despertando vocação para a vida consagrada e religiosa, mas para a vida cristã, na comunidade, que é, sem sombra de dúvida, o primeiro apelo para o engajamento. Toda vocação envolve um serviço à comunidade, que necessariamente não precisa ser de forma consagrada nem religiosa. Graças a Deus nós podemos contar com muitas vocações, muitos jovens participando da vida comunitária em Santo Antonio. Mas, claro, é preciso muito mais, porque não é só o espaço religioso que eles precisam ocupar. Imaginem, por exemplo, o espaço estudantil, com os jovens sendo fermento na defesa de valores como a justiça, a igualdade, o respeito mútuo. O jovem não precisa ir para a escola com a bíblia debaixo do braço, nem andar promovendo novenas ou coisas do tipo, para ser cristão; antes, deve promover discussões em torno de temas importantes, que promovam a vida, colocando-se contra tudo o que a degrade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pastorais Sociais emitem carta sobre fé e esperança diante do cenário de pandemia e crise política

A situação de milhares de pessoas no Brasil que vivem em situação de vulnerabilidade social, neste tempo de pandemia, tem sido mais difíc...