Padre Reginaldo Carreira |
Na maioria das vezes, quando ordenamos o silêncio ao outro, significa que perdemos toda a capacidade de dialogar e de fundamentar nossa posição contrária. Na verdade, o silêncio é necessário e útil num relacionamento, quando tem o objetivo de ser pausa para um diálogo mais coerente, equilibrado e comprometido. Nesse caso, trata-se de uma solicitação, nunca uma ordem. E quando solicitamos o silêncio, ou ele nos é solicitado num relacionamento, devemos ter firmeza e humildade suficientes para fazer ou atender ao apelo. Não é fácil, mas é preciso saber calar.
Olhando por outro ângulo, o silêncio sem perspectiva não acresce em nada à convivência, pelo contrário, gera raiva, mágoas, ilusões e omissões. Por isso, é preciso saber falar. Assim como o calar, o falar traz consequências e comprometimentos. E quando temos plena liberdade para calar e falar, temos ainda mais responsabilidade sobre o que calamos e o que falamos. A partir disso, podemos ter a tentação de nos omitir em situações de confronto, exatamente para não nos comprometer.
A verdade com verdade − Nessa reflexão, cabe bem, no âmbito da espiritualidade, a figura de Pedro. Em diversas passagens bíblicas, vemos Pedro tomando a frente dos apóstolos e falando em nome deles. Às vezes, sendo tão impulsivo que chega a ser repreendido pelo Mestre Jesus. Aparentemente, podemos julgar que Pedro errou mais, porque falou mais. Mas, se avaliarmos bem, veremos que, em algumas vezes, ele disse o que os outros apóstolos poderiam estar pensando e não tiveram a coragem de dizer... Pedro, então, fala em nome deles, e ao fazer isso assume o risco de errar e se responsabilizar pelo que disse.
Jesus compreendeu tanto a ousadia e a coragem de Pedro que manteve nele sua confiança e o colocou como chefe da sua Igreja. Jesus precisava, e precisa, de homens e mulheres que falem a verdade e com verdade, e que falem o que for preciso. Claro que, com o tempo, Pedro aprendeu com Jesus que deveria falar com mais cuidado, submetendo seu impulso ao domínio e discernimento do Espírito Santo. Mas também aprendeu que anunciar, denunciar, criticar com fundamento, fazer algo mais do que apenas falar ou reivindicar, assumir nossas posições diante dos assuntos e circunstâncias em que somos confrontados, era sua missão como cristão e fundamento da Igreja.
Nossa Igreja se fortalece, evangeliza e atua em nossa sociedade, porque tivemos e temos Pedros, Franciscos, Claras, Teresas, João Paulos II que acreditaram, mesmo diante de tantos motivos e realidades contrárias, no aparentemente utópico, ideal do Reino de Deus. Eles sabiam que para isso precisavam saber calar e ouvir o Mestre, mas também saber falar e se comprometer.
Fonte: Família Cristã 910 - Out/2011
Inserido por: Família Cristã
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